Clima hostil, troca de farpas, acusações voando de um lado para o outro. Quando a bola subiu neste sábado, o Brasil só precisou de 20 minutos para pulverizar duas semanas de polêmicas. Foi o tempo que durou o primeiro set da semifinal, num avassalador 25/15 que nocauteou a seleção italiana e fez a torcida se engasgar com as vaias na Arena de Roma. Dali em diante, os comandados de Bernardinho se dedicaram à tarefa de abater os donos da casa. Até então invicta, a Azzurra até se levantou e roubou a terceira parcial, mas logo voltou para o chão. Com grande atuação de Leandro Vissotto, Marlon segurando a onda após uma lesão de Bruninho e o placar incontestável de 3 sets a 1 (25/15, 25/22, 23/25 e 25/17), a seleção verde-amarela salta para a final e encara, neste domingo, a última barreira antes do tricampeonato: os valentes cubanos.
Se conseguiu escapar de Cuba na terceira fase ao perder o “jogo da vergonha” para a Bulgária, agora não tem mais jeito. Será justamente contra os caribenhos a decisão do Mundial, às 16h15m de domingo, com transmissão ao vivo do SporTV. Na primeira fase do torneio, eles levaram a melhor, batendo os brasileiros por 3 a 2 num jogo espetacular. Agora o cenário é diferente e vale a medalha de ouro.
O jogo equilibrado que todos esperavam neste sábado não chegou a acontecer. Após um primeiro set avassalador, o Brasil perdeu Bruninho, que levou um pisão no pé esquerdo, deu lugar a Marlon e só voltou no fim da terceira parcial, com a mobilidade claramente prejudicada. Nem o desfalque inesperado baixou a bola. Apesar de uma boa terceira parcial da Itália, o time visitante manteve a cabeça no lugar e arrancou a vitória, que garante ao menos a prata.
O Brasil entrou na Arena de Roma lotada sob os gritos de “buffoni” (palhaços), ofensa que tinha ouvido pela primeira em Ancona, na derrota para os búlgaros. E foi no meio das vaias que o Brasil, blindado contra a pressão, mostrou o cartão de visitas e abriu 3/0. No terceiro ponto, Mastrangelo já encarava Dante na rede. Olhava e ria de forma irônica. Mas quem respondeu foi Vissotto. Com atuação impecável, o oposto virou todas e foi abrindo vantagem.
No retorno da primeira parada técnica, o placar era de 8/5. Logo pulou para 14/9, numa invasão do levantador Vermiglio. Quando os italianos erraram mais uma vez, com Mastrangelo atacando para fora, o técnico Andrea Anastasi pediu tempo. No 15º ponto, Bruninho vibrou e gritou em direção aos reservas. A seleção embalou e abriu seis pontos: 17/11. Estranhamente calmo, Bernardinho fazia no máximo sinais de positivo. A vantagem chegou a impensáveis 21/12, e a torcida já não esboçava o ânimo habitual. Anastasi ainda trocou seus jogadores, lançando Birarelli e Cernic nos lugares de Sala e Parodi. Não adiantou, o nocaute do primeiro set estava sacramentado. No chão, os italianos viram Lucão fechar a parcial em 25/12.
Apesar do golpe, a Itália não voltou grogue para o segundo set. Equilibrado, o placar de 8/8 fez Bernardinho parar o jogo. Na volta, Cernic, que tinha acertado um ace para empatar a partida, sacou para fora. Os italianos queriam bola dentro, abrindo a primeira de muitas polêmicas de arbitragem no set. O juiz chinês chamou Murilo na rede, e o ginásio quase veio abaixo com as vaias. O Brasil levou o ponto, mas sofreu um baque pouco depois. Bruninho levou um pisão no pé esquerdo e deixou a quadra. Foi substituído por Marlon, que não jogou a primeira metade do Mundial por causa de uma doença intestinal.
Ginásio lotado |
Mudou o levantador, mas a discussão continuou. Savani atacou e disse que a bola raspou no bloqueio de Dante, abrindo um bate-boca entre Marlon e Vermiglio na rede. O italiano recorreu ao juiz, mas não adiantou. As duas equipes seguiam se revezando na liderança. Enquanto Bruninho recebia atendimento no banco, Marlon arredondava a bola para Vissotto, que continuava virando todas as bolas. Murilo manteve o Brasil à frente e, com um ace de Lucão, veio o 23º ponto. Escorada na experiência de Fei, a Itália ainda tentou reagir, mas levou outro golpe: Brasil 25/22, 2 a 0 na partida.
Os fiscais de linha, italianos, cometiam erros grosseiros a favor do time da casa, e era o juiz chinês que corrigia as falhas. Os brasileiros tentavam não perder a cabeça. Mas, como Rodrigão tinha previsto durante a semana, as provocações começaram no terceiro set. Vermiglio falava com Dante, que andava pela quadra. Murilo chamou o companheiro e pareceu pedir para que ele não caísse no jogo emocional. Mas o time caiu, e os italianos abriram vantagem no placar. Mastrangelo gesticulava para Vissotto, Marlon encarava e, perdendo por 10/6, Bernardinho pediu tempo. Os atletas ouviram os gritos do técnico e as orientações de Giba. Ainda assim, a Itália foi para a segunda parada técnica com 16/13.
E seguiu na frente. Fei atacava bem pela saída de rede, enquanto Mastrangelo conseguia parar Murilo no meio fundo. Com 18/13, Bernardinho parou o jogo outra vez. O Brasil melhorou, e o técnico fez a inversão de 5-1, mandando Bruninho de volta à quadra ao lado de Theo, nos lugares de Marlon e Vissotto. Mas Bruninho mal conseguia se movimentar em quadra, mancava e, na bola que poderia ser o 19º ponto brasileiro, errou o saque. No banco, o treinador levou a mão ao rosto e baixou a cabeça. Com a alteração desfeita, a seleção ainda apertou e cortou a diferença para um ponto. Mas não deu. Os italianos fecharam o set em 25/23, respiraram no jogo e acordaram a torcida.
Mas não abalaram os brasileiros. Com os brios mexidos, os jogadores voltaram afiados para a quarta etapa. Com bons saques de Murilo, um bloqueio de Dante e erros de Fei, o Brasil abriu 6/2. Em uma só tacada, congelou a torcida e ganhou o fôlego necessário para controlar o ritmo do jogo. Isso não significa que Bernardinho estava calmo. O técnico quase rasgou a camisa ao ver Murilo errar um passe. A Itália apertou o placar. Bloqueado por Mastrangelo, Rodrigão se irritou e chutou a bola nas arquibancadas.
Vermiglio provocava na rede. Durante um rali, chegou a cair no chão e demorou a levantar. A pedido de Dante, o juiz parou o ponto. O brasileiro foi até o levantador, que dispensou a ajuda. Dante insistiu, estendendo a mão, mas o italiano não parava de falar. Virou-se para Vissotto, que o chamou de maluco.
Fato é que, na segunda parada, o Brasil já tinha 16/10 no placar. E continuou abrindo vantagem. Com Vissotto no ataque e um ace de Dante, colocou 20/11. Fei ainda retornou à quadra e atrapalhou a recepção brasileira, mas àquela altura o estrago estava feito, e Vissotto seguia virando todas. A Arena de Roma já não gritava. Os italianos já não provocavam. Os fiscais de linha já não ajudavam. E o Brasil garantia a vaga na final, sem se desviar do caminho que leva ao tricampeonato mundial.
Fonte: GloboEsporte.com
Por Joulle